Que serenidade que esta cena me traz! Sim, eu gostaria de me sentar nesta confortável poltrona, manta no colo, livro absorvente nas mãos, tomando café (o bule é de café, os de chá são baixinhos e gordinhos), protegida do frio lá fora. A primavera se aproxima lentamente. Mas há esperança de que esteja para chegar. Há flores nos potes que alegram o peitoril. O sol se faz presente, réstia clara que traz um tantinho de sombra à janela. Está alto. Trata-se portanto de meia manhã ou cedo na tarde. Os dias são curtos no inverno. Faz frio. Neve congelada cobre os galhos da árvore sem folhas. Mas não há pequenos brotos de folhas nos galhos, portanto a Natureza ainda dorme neste frio de inverno. No entanto, o pombo branco se aventura fora do ninho, na construção ao lado. Será uma casa? Ou um celeiro? Estamos numa região onde o frio impera. Há duplas vidraças na janela, para conter as rajadas de vento e as temperaturas baixas. Ainda bem que estamos aqui dentro. Confortáveis. O luxo não é extravagante, comedido. Ele se caracteriza pelo belo estofamento desta bergère, (nome dado as essas poltronas ‘com orelhas’ que guardam o rosto, de quem se senta nelas, da brisa fria ou do calor de uma lareira). Além disso, há o serviço de café sobre a mesa. De prata? De banho de prata? Ou de estanho polido? Não importa. O cabo de madeira, assim como a carrapeta da tampa, protegem quem serve o café do calor do líquido. O cabo em forma decorativa nos dá ideia da época de manufatura, final do século XIX às primeiras décadas do século XX. Todos esses são diferentes graus de luxo. A cena é europeia. Afinal de contas onde mais encontraríamos uma cumbuca sem asa para tomar chá ou café? Esse detalhe nos coloca na Europa Oriental: Rússia, Polônia, Ucrânia. Não sabemos. A porcelana é fina, azul e branca, talvez alemã, (Meissen?) ou húngara? Polonesa? Sabemos que é de boa qualidade porque é muito fina, quase transparente nas bordas e tem excelente brilho. Mas o que mais me encanta é a paz que esta cena me traz. A quietude do momento. Quase escuto o arrulho do pombinho lá fora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário