Imagino que, pesquisando, seja possível encontrar, para cada romancista, o episódio fundador da sua escrita: o distante relâmpago, a pequena humilhação, um primeiro amor impossível, a mãe controladora, um crime íntimo, a morte do pai.
Todos nós gostaríamos de saber de que selva fabulosa saíram os tigres de Jorge Luís Borges; de que ruínas barrocas ou jardins perfumados emergiram as baratas de Júlio Cortázar ou as belas ninfetas e mariposas (serão a mesma coisa?) de Vladimir Nabokov. Não creio que o segredo da criação se esgote nesse conhecimento, e nem me parece que tal fosse desejável. Talvez tenha até o efeito contrário, levando-nos a reler os livros que mais amamos e que mais nos marcaram, e a encontrar nessa releitura novos e mais profundos mistérios.
José Eduardo Agualusa, “Um relâmpago que atravessa vidas”
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