terça-feira, fevereiro 14

Vá ao sebo

Em coluna recente ("A irrelevância ao alcance de todos"), falei de livros típicos dos anos 60, como tratados "eruditos" sobre temas irrelevantes e vice-versa. E citei, entre outros, "A Ignorância ao Alcance de Todos", de Nestor de Hollanda, e "Tratado Geral dos Chatos", de Guilherme Figueiredo. Leitores perguntaram em que sebo procurá-los e alguém falou na Estante Virtual, o portal de comércio eletrônico com o acervo dos sebos do Brasil. Através dele, e por uma comissão, pode-se de fato achar qualquer livro —qualquer livro que exista num sebo, claro.

Uso muito a Estante Virtual para saber se tal ou qual livro existe e onde posso encontrá-lo. Encontrado o livro, prefiro lidar direto com o sebo, visitando-o para escarafunchar estantes, revirar pilhas e descobrir outros livros de que nem desconfiava. Já cansei de dizer que, quando morrer, não quero ir para o céu, quero ir para um sebo. É onde passei grande parte da vida. Deles saíram pelo menos metade dos livros que tenho em casa —a melhor metade.


No Rio, vou ao Mar de Histórias, em Copacabana; ao Berinjela, na avenida Rio Branco; à Academia do Saber, na avenida Passos; ao Letra Viva, na rua Luís de Camões; ao Elizart, na rua Marechal Floriano; ao Lima Barreto, em Ipanema; e a muitos outros. Sou amigo de seus funcionários, íntimo de seus gatos e, em alguns, até trato os ácaros pelo nome.

Em São Paulo, vou ao Buquineiro, ao Virtual Incunábulo e ao Brandão. Em Curitiba, ao Fígaro. Em Belo Horizonte, ao Crisálida. Em Porto Alegre, ao Avenida. E por aí vai.

Outro dia, tive uma grande experiência. Com Marcelo Dunlop e Luis Antonio Simas, participei da reabertura do Belle Époque, um sebo no Méier que foi devorado por um incêndio em 2022. A foto das chamas saindo pela porta era chocante. Mas seu proprietário Ivan Costa, com a ajuda dos amigos, o trouxe de volta. Os sebos fecham, mas não morrem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário