Tudo começou durante a campanha eleitoral, fazendo dos livros uma arma poderosa. Nas redes sociais, o desafio era cada leitor de esquerda ou simpatizante escolher 13 livros de capa vermelha, reunindo o número do candidato Lula e a cor do partido num único pacote. Inimitável, porque a direita seguidora de Bolsonaro não lia e não lê… Talvez nem tenha compreendido o espírito da iniciativa, porque não reagiram.
A iniciativa foi bastante prazerosa para os que têm intimidade com a literatura. Vasculhar as estantes à procura de obras com capas vermelhas foi como ressignificá-las, enquanto recordávamos os autores, prosa e poesia preferidos, a época em que foram lançadas, quem éramos então.
Participo de alguns grupos de Haicai e, entre os poetas, a feliz brincadeira ganhou outros ares. Agora pesquisamos livros desse gênero (poesia de origem japonesa composta por três versos e 17 sílabas tônicas, inspiradas na natureza) e compomos haicais com os títulos, o que deu origem ao apelido de “hailombadas”.
A cada poema, novas descobertas. Obras de grandes mestres, de haicaístas consagrados e iniciantes que – garanto – nunca mais deixaram de enxergar o mundo de uma forma muito especial e estão sempre a abrir novas possibilidades, janelas, horizontes, a partir da observação e do silêncio. Porque escrever haicais é também meditar.
Tudo cabe dentro daquelas três enxutas linhas: as estações, a fauna, a flora, os fenômenos atmosféricos, a geografia, as vivências. E podem surgir carregadas de ternura, gratidão pela vida, humor, ironia, saudades. Ao escrever, é comum nos sentirmos acompanhados por mestres como Issa, Bashô e muitos outros que também experimentaram essa poesia de séculos, que até samurais praticavam.
Os hailombadas nos ajudam a enfrentar com mais coragem o árido dia a dia, nos inserem no privilegiado grupo que busca se aprimorar na delicadeza, nos oferecem abrigo das agressões rotineiras. Quando provocados, relevamos. Ou abrimos livros e atiramos versos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário