terça-feira, janeiro 23

O Bardo entre nós

Se Shakespeare vivesse hoje e quisesse ser gentil, a cada três ou quatro passos pela rua cumprimentaria algum de nós: alô, colega, olá, confrade. E precisaria resistir, no trajeto, aos convites de ingresso em associações, grêmios e sindicatos, além de recusar, com sua polidez britânica, aos apelos para frequentar, pagando reduzidas mensalidades, cursinhos de roteiro e de redação criativa.

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E há aquele tipo pleno de masculinidade e gramaticalmente vazio que se define como homem com ó maiúsculo.

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Chamei por Deus e a resposta foi um bulício na ameixeira, como se num dos seus galhos estivesse nascendo um passarinho.

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Quem mente só o suficiente mente suficientemente bem.

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Chega um momento em que não é preciso um exame clínico para atestar nosso estado. Um olhar qualquer, até o nosso diante do espelho, basta para ver que estamos mortos.

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Pronuncio o nome da literatura com a obstinação de um homem que, havendo sofrido a vida inteira por um amor não retribuído, teme não conseguir revelá-lo nem na hora final.

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Não sou representante de nada nem de ninguém. Não sou o defensor de uma causa nem dos que morreram por ela. Sou só alguém que amou a literatura como tantos amaram outras coisas e que não tem por nenhuma outra coisa o amor que por ela tem.

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Como é bom, às vezes, recusar os adornos que a literatura vive nos oferecendo e dizer, simplesmente, como Gertrude Stein, que uma rosa é uma rosa.

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