Ziquizira inesperada no equipamento me levou a chamar meu técnico em computador. Diante da emergência, ele se despencou. Clicando em velocidade, fez todas aquelas operações em que milhares de letrinhas correm pela tela, produzindo silvos e apitos, e, quando pensei que iria se meter fisicamente pelas entranhas do bicho, ele anunciou: "Prontinho. Resolvido". Aliviado, bufei: "O que era? Isso nunca aconteceu antes! Como se explica?". Ele respondeu: "Não tem explicação. Você pensa que computador é só matemática. É macumba também".
Queria dizer que a informática não é uma ciência exata. Pode ser também uma ciência mágica, o que a aproximaria dos nossos próprios limites, que nos impedem de saber por que algumas coisas são como são. Comentei a história com uma amiga e disse que podia me render uma crônica. Ela advertiu: "Cuidado. A palavra macumba foi cancelada. É considerada pejorativa dos cultos afrobrasileiros".
Embatuquei. Macumba é uma das mil palavras de origem afro que nos definem como falantes brasileiros da língua portuguesa. Como dispensá-la apenas porque um ou outro a emprega com impropriedade? Será enxotando-a da língua que iremos reabilitá-la? Se sim, todas as palavras como ela estarão um dia sujeitas ao opróbrio. Exemplos:
Acarajé, agogô, angu, axé, babá, bagunça, balaio, balangandã, banguela, banzé, batuque, birita, bunda, cabaço, caçula, cachaça, cachimbo, cacunda, cafundó, cafuné, cafungar, cambada, camundongo, careca, catimba, catinga, caxumba, chilique, cochilo, cuíca, cumbuca.
Dengo, farofa, fofoca, fuleiro, fuxico, fuzuê, gandaia, ginga, jagunço, lambada, lambança, lenga-lenga, macambúzio, mandinga, mingau, moleque, moringa, muamba, muvuca, muxoxo, pamonha, perrengue, pinga, quengo, quindim, quitute, quizumba, sapeca, sarará, serelepe, tagarela, tanga, tutano, tutu, urucubaca, xodó, zoeira, zumbi, zunzum. Etc. etc. Dá para viver sem?
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