terça-feira, janeiro 9

O pecado de Casimiro de Abreu

Sou poeta, sim, mas dos menores. Numa folha cabem minha vida inteira e todos os seus arredores.

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“Agora eu posso ler um soneto?”, ele pediu, com a boca molhada de beijos e batom. Ela o beijou de novo, deu um suspiro longo: “Não, eu quero mais, amor.” Ele suspirou também, desalentado: “Já? Outra vez?” Ela disse: “É, amor, por favor.” Resignado, ele se pôs novamente a beijá-la: “Mas depois você deixa?” Ela perguntou: “É um só? Então eu deixo, deixo, sim, ai, amor, deixo, juro que deixo.”

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Certas noites, um erotismo tardio e uma lembrança aflita o conduzem ainda à esquina onde ele, adolescente, contempla assustado um grupo de mulheres, imaginando com qual delas compartilhará seu primeiro pecado carnal.

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Passarinhos eram seres que existiram no tempo em que os homens olhavam para o céu.

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Somando tudo que fiz, não tenho glória ou virtude. Não fiz aquilo que quis, fiz só aquilo que pude.

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Se ser poeta não era meu destino, por que foi que ninguém me avisou quando eu ainda era um menino?

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Pondere-se o que se pondere sobre os avanços tecnológicos e a extrema precisão dos modernos instrumentos ópticos, a mais honesta e coerente forma de exercer o voyeurismo ainda é a olho nu.

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A Casimiro de Abreu, na noite em que foi procurá-la, a poesia não deu a iniciação com que costumava seduzir os jovens poetas. Logo sentiu que o tremor de suas mãos e a febre no seu rosto não eram traços de devassidão, mas sinais de devoção, como os que se veem nos santos e nos mártires.

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