Quem me dera encontrar palavras fortes,
recheadas de coisas e de sons,
tesouros ocultos em caixa-forte,
agrestes com suas cores e tons,
palavras sexuadas e gulosas,
capazes de fremir e de dar fruto,
palavras destemidas e afrontosas,
visando o relativo e o absoluto,
palavras cheias de escuro e de luz,
recheadas de amor e tempestade,
com passada que namora e seduz,
palavras que ocultam mais de metade,
mas dizem que baste para assustar,
palavras bem sedentas de tumulto,
feitas somente para magoar,
cheiinhas, para o caso, de insulto,
palavras que assassinam o canalha,
mas sabem abençoar S. Francisco,
palavras afiadas como navalha,
que, do pescoço infame, fazem petisco,
palavras que são fogo e que queimam,
palavras que ameaçam e cumprem,
palavras que desfloram e que teimam,
palavras que os lordes da guerra estuprem,
palavras fortíssimas, necessárias,
duras, fortes, doces, imprescindíveis,
palavras clássicas, bem centenárias,
que tornem os nossos sonhos possíveis!
Eugénio Lisboa
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