terça-feira, março 5

Livro digital ou impresso: o que é melhor para o planeta?

Os leitores de livros impressos e digitais e os ouvintes dos audiolivros gastarão quase 174 bilhões de dólares (R$ 862 bilhões) até 2030. Com cerca de 4 milhões de títulos lançados a cada ano, eles têm uma liberdade de escolha privilegiada.

Mas, quais os impactos de toda essa leitura sobre o meio ambiente e o clima? Devemos fazer a transição do livro impresso para o digital pelo bem das florestas e para evitar o aquecimento global?

Os dois formatos possuem suas vantagens e desvantagens.

Desde que Johannes Gutenberg inventou a imprensa na Alemanha, há quase 600 anos, a produção de livros explodiu globalmente. Em torno de 130 milhões de exemplares foram publicados entre a invenção da imprensa, em 1440, e 2010, segundo um estudo encomendado pela Google.


Todo esse conhecimento e narrativas de histórias resultaram em avanços para a humanidade. Por outro lado, a produção dos livros também ceifou inúmeras árvores de florestas que dão suporte à vida selvagem, produzem oxigênio e ajudam a armazenar o carbono que, quando liberado, induz as mudanças climáticas.

A editora Penguin Random House UK, que imprime anualmente cerca de 15 mil títulos, garante que passou a usar papel sustentável nos tomos lançados em nome da empresa.

Courtney Ward-Hunting, gerente de sustentabilidade da Penguin, diz que 100% do papel utilizado nos livros é certificado pela ONG ambientalista Forest Stewardship Council (FSC), que trabalha no gerenciamento de coleta de madeira sustentável ou regenerativa que "preservam as florestas para as futuras gerações".

Contudo, o trabalho da FSC em termos de proteção de florestas vem sendo criticado, com a entidade sendo acusada por organizações como o Greenpeace de promover a chamada "lavagem verde".

Ward-Hunting reconhece que mais de 70% do impacto climático gerado pela Penguin vem das gráficas e usinas de celulose. Ela diz que os livros da editora geram em média 330 gramas de dióxido de carbono cada, o que inclui gases causadores do efeito estufa. Essa quantidade seria a mesma gerada por uma xícara de café.

Esses dados equivalem a todo o ciclo de produção de uma unidade, incluindo a eficiência do maquinário, o uso de energias renováveis, tipos de tinta e o transporte das gráficas até os armazéns e aos consumidores.

Em média, os livros de bolso ou brochuras comuns possuem impacto climático três vezes maior ou equivalem a cerca de um quilo de CO2. Isso é o mesmo que a recarga de 122 smartphones, ou dois cafés com leite.

Ao mesmo tempo em que as inovações de fabricação diminuíram as pegadas de carbono dos livros impressos, o impacto no clima é significativo se levarmos em conta os aproximadamente 2,2 bilhões de livros físicos que são vendidos anualmente em todo o mundo, afirmam os analistas de dados da WordsRated.

Mesmo se presumirmos que cada livro gera 0,33 quilos de CO2, como na Penguin Random House, isso corresponderia a 762.000 toneladas de CO2 – o que equivale ao fornecimento anual de energia a 141.261 residências, ou às emissões de 161.500 automóveis.

O benefício ambiental imediato dos equipamentos de leitura de livros eletrônicos é a capacidade de armazenamento de milhares de livros, sem a utilização de papel.

Isso não apenas poupa as florestas – somente nos Estados Unidos são derrubadas anualmente 32 milhões de árvores para a impressão de livros – como também evita enormes gastos de energia no processamento da madeira para a fabricação de papel.

A chamada polpação da madeira representou 6% do consumo total da energia industrial global em 2017, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

Outra vantagem é o fato de os livros digitais não precisarem ser enviados através de encomendas, uma vez que podem ser diretamente baixados nos equipamentos de leitura.

O principal leitor de livros digitais no mercado é o Kindle da Amazon. Mais de 487 milhões de ebooks são vendidos anualmente através desse equipamento, segundo a WordsRated. A Amazon calcula que em torno de 5 milhões de pessoas em todo o mundo leem através do Kindle ou de aplicativos todos os meses.

A popularidade dos livros digitais aumentou nos últimos anos principalmente devido aos jovens das gerações Y e Z. O número de consumidores globais de ebooks deve chegar a um bilhão até 2027, segundo cálculos da plataforma alemã de dados Statisa.

Mas, a transição de leitores dos livros impressos para os digitais resultaria de fato em benefícios ao clima e ao meio ambiente?

Os equipamentos eletrônicos de leituras também possuem seu lado ruim. Sua produção é um processo de alto consumo de água e energia. A bateria pode exigir a extração de metais e minerais raros, como cobre, lítio e cobalto. Os aparelhos também são compostos por plástico, que é um material produzido a partir de combustíveis fósseis.

Assim como ocorre com os livros impressos, a fase de produção dos ebooks é a que mais gera impactos no clima. Além disso, os leitores utilizam a eletricidade para recarregar os aparelhos, vez após vez, durante a vida útil dos mesmos. O armazenamento do arquivo dos dados dos livros digitais depende de centros de infraestrutura.

Isso não ocorre com os livros impressos, que não utilizam energia e não precisam de recarga. As cópias impressas podem durar décadas e serem compartilhadas por inúmeros leitores. Já os leitores digitais costumam durar entre três e cinco anos.

Os livros impressos também não são tão complicados de serem descartados ou reciclados no final de suas vidas. Por outro lado, algumas empresas como a Amazon possuem programas de reciclagem para os aparelhos, de modo a evitar o acúmulo de lixo eletrônico.

Os livros impressos tradicionais continuam tendo popularidade muito maior do que os digitais, com aproximadamente o dobro da penetração de mercado de seus concorrentes eletrônicos, segundo registros de 2021 nos EUA.

Para Eri Amasawa, professora da Universidade de Tóquio, o impacto ambiental de ambos é significativo.

Em um estudo de 2017, a pesquisadora comparou as emissões de gases causadores do efeito estufa da leitura de livros tradicionais e eletrônicos. Ela concluiu que os últimos são mais favoráveis ao clima contanto que ao menos 15 ou mais livros (ou 25 no caso dos iPads) sejam lidos durante o ciclo de vida de três anos dos leitores digitais.

Ao mesmo tempo, a leitura de um ou dois livros por ano em um Kindle não seria suficiente para poupar emissões.

Mas, e se os leitores consumirem livros nos dois formatos?

"Muitas pessoas ainda desejam ler livros impressos, mesmo que elas também leiam ebooks", disse Amasawa. Em torno de 33% dos leitores americanos se encaixam nessa categoria.

Mas, mesmo que os aparelhos digitais façam sentido em termos ambientais, a pesquisadora recomenda ao aficionados em livros impressos que "comprem os livros que de fato desejem ler, e depois os reciclem quando terminarem a leitura".

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