Dormiu, e em sonho viu um homem que lhe ordenava: “Caedmon, canta-me alguma coisa”. Caedmon respondeu dizendo: “Não sei cantar e por isto deixei a festa e vim deitar-me”. O que lhe havia falado disse: “Cantaras”. Caedmon replicou então: “Que posso eu cantar?”. A resposta foi: “Canta-me a origem de todas as coisas”. E Caedmon cantou versos e palavras que não havia escutado nunca, nesta ordem: “Louvemos agora o guardião do reino celestial, o poder do Criador e o conselho de sua mente, as obras do glorioso Pai; como Ele, Deus eterno, originou cada maravilha. Fez primeiro o céu como teto para os filhos da terra; depois fez, todo-poderoso, a terra, para dar um solo aos homens”.
Ao despertar, guardava de memória tudo o que havia cantado no sonho.
A estas palavras acrescentou muitas outras, no mesmo estilo, dignas de Deus.
Beda conta que a abadia dispôs que os religiosos examinassem a nova capacidade de Caedmon, e, uma vez demonstrado que o dom poético lhe havia sido conferido por Deus, instou-o a entrar na comunidade. “Cantou a criação do mundo, a origem do homem, toda a história de Israel, o êxodo do Egito e a entrada na terra prometida, a encarnação, paixão e ressurreição de Cristo, sua ascensão ao céu, a chegada do Espírito Santo e o ensino dos apóstolos. Cantou também o terror do juízo final, os horrores do inferno e as bem-aventuranças do céu”. O historiador agrega que Caedmon, anos depois, profetizou a hora em que iria morrer, e esperou-a dormindo. Deus, ou o anjo de Deus, o havia ensinado a cantar; esperemos que tenha voltado a encontrar-se com seu anjo.
Jorge Luís Borges, "Livro de Sonhos"

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