Quando eu era criança, muitos dos meus livros favoritos tinham como tema a comida. Um deles contava a história de um menino que ajudou a salvar uma pequena lanchonete ao se tornar um detetive gourmet que conseguiu recuperar um ingrediente secreto perdido.
Muito tempo depois de ter esquecido do livro e seu título, estive em Edimburgo para entrevistar Alexander McCall Smith. Ele já era o autor campeão de vendas por trás da série Agência Nº 1 de Mulheres Detetives, mas, anos antes, tinha escrito alguns livros infantis. E em uma prateleira de sua estante lá estava "The Perfect Hamburger".
Era o meu livro. Só que não exatamente. Sim, os hambúrgueres ainda eram descritos com detalhes de lamber os beiços, mas dessa vez ficou claro para mim que, na realidade, The Perfect Hamburger é um conto sobre a ganância corporativa e o destino de pequenas empresas obrigadas a competir com as grandes redes.
Reler livros infantis na idade adulta pode gerar todo o tipo de mensagens subentendidas, algumas mais evidentes do que outras. O clássico "Como o Grinch Roubou o Natal", de Dr. Seuss, é uma parábola sobre o consumismo. E por que não parece óbvio que a série "As Crônicas de Nárnia", de C.S. Lewis, é uma fantástica reinvenção da teologia cristã?
Da mesma maneira, uma leitura mais atenta transformou os livros do urso Paddington em fábulas sobre a imigração, e as histórias do elefante Babar em um endosso do colonialismo francês.
As aventuras de "Alice no País das Maravilhas" já foram interpretadas de várias formas – de uma ode à lógica matemática a uma sátira à Guerra das Duas Rosas, ou ainda a uma viagem psicodélica à base de drogas. Quanto a "O Mágico de Oz": ora, evidentemente, trata-se de uma representação alegórica do debate em torno da política monetária americana no fim do século 19.
"Nunca é demais tentar buscar um significado mais profundo", afirma Alison Waller, professora de Literatura Infantil da Universidade de Roehampton, na Grã-Bretanha.
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