Presentes de Natal
Nestor de Holanda (Nestor de Hollanda Cavalcanti Neto, 1921-1970)
Houve o Natal do carneirinho manso, que meu pai me deu para ser saudade hoje. Houve o da flauta, o do velocípede, o da bicicleta.
Depois, o das obras de Júlio Verne.
Mais adiante, o da Enciclopédia e Dicionário Internacional.
Um dia, fui visitar casa amiga. E a empregada me anunciou:
— Aí está um rapaz.
Desde então, o Natal se foi transformando em pijamas, camisas, gravatas, lenços.
Noutra visita:
— Aí está um moço.
Notem que, no caso, moço é mais velho que rapaz...
Meu Natal passou a faturar abotoaduras, alfinetes de gravata, carteiras de cédulas ou de níqueis, cintos e agendas.
Agora, quando visito algum amigo, as empregadas me anunciam:
— Aí está um senhor.
Quando o dono da casa é cortês, ri:
— Que senhor, que nada, Maria. É o Iolando. Entra velho.
O velho em tom fraterno, remoça mais a gente. Acho horrível ser senhor.
Assim, o último Natal me deixou mágoa estranha. Porque pessoa querida, das que sempre me presentearam no nascimento do Cristo, apareceu com uma caixinha embrulhada em papel multicolor. Todo alegria, abri o embrulho e a caixinha.
Eram uns suspensórios!...
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