Em excelente entrevista a Irene Hernández Velasco, da BBC News Mundo, Desmurget afirma que, historicamente, pesquisadores vinham observando um aumento gradativo do QI de geração para geração — um negócio chamado Efeito Flynn —, mas que recentemente essa tendência começou a se reverter, ou seja, é a primeira vez que se constata que uma geração apresenta o QI diminuído em relação à geração anterior. Segundo Desmurget, estudos mostram uma relação direta entre maior exposição à televisão e ao videogame e redução do QI e do desenvolvimento cognitivo. As causas, ele explica, podem ser claramente identificadas: diminuição da qualidade e quantidade das interações intrafamiliares, essenciais para o desenvolvimento da linguagem e do emocional; diminuição do tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (lição de casa, música, leitura, etc.); perturbação do sono, que é quantitativamente reduzido e qualitativamente degradado; superestimulação da atenção, levando a distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; subestimulação intelectual, que impede o cérebro de desenvolver todo o seu potencial; e sedentarismo que, além do desenvolvimento corporal, influencia a maturação cerebral.
O resultado disso: um aumento das desigualdades sociais e uma divisão progressiva da nossa sociedade entre uma minoria preservada desta “orgia digital”, que possuirá, por meio da cultura e da linguagem, as ferramentas necessárias para pensar e refletir sobre o mundo, e uma maioria com ferramentas cognitivas e culturais limitadas, incapaz de compreender o mundo, que aprenderá apenas as habilidades básicas para ocupar empregos técnicos de médio ou baixo nível. Enfim, estamos assinalando para um mundo em que, através do acesso constante e debilitante ao entretenimento, essa maioria aprenderá a amar a servidão.
Agora, leitor/leitora, imagine esse cenário catastrófico aplicado ao nosso querido Brasil, onde as condições socioeconômicas são determinadas ainda no berço — atenção, arautos da meritocracia, não há meritocracia onde vigora o abismo social. Por conta de interesses escusos, a nossa sociedade saiu das trevas do mais profundo analfabetismo diretamente para a cultura audiovisual, sem passar pelo letramento. Em 1970, ou seja, há exatos 50 anos, 34% da população com mais de 15 anos não sabia ler, mas quase um terço dos brasileiros já tinha acesso à televisão, um projeto da ditadura militar visando a unificação do país por meio da “máquina de fazer doido”, apelido carinhoso dado à época, de maneira visionária, pelo cronista Stanislaw Ponte-Preta.
Uma pesquisa do IBGE mostra que em 2016, 97,2% dos lares brasileiros possuíam aparelho de televisão, 45% contavam com computador, 92,6% da população tinha celular — em contrapartida, apenas 4,5% das escolas públicas brasileiras contavam com infraestrutura prevista no Plano Nacional de Educação, que se traduz em acesso a energia elétrica; abastecimento de água tratada; esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sólidos; espaços para a prática esportiva e para acesso a bens culturais e artísticos; e equipamentos e laboratórios de ciências. Faltam bibliotecas em 55% das escolas brasileiras e os salários dos professores do ensino público estão entre os piores do mundo, segundo levantamento do Inep.
Ou seja, caríssimos leitores/as: o Brasil é campo fértil para a disseminação dos idiotas digitais e não é à toa que eles estão aí, cada vez ocupando mais espaço na sociedade.
O resultado disso: um aumento das desigualdades sociais e uma divisão progressiva da nossa sociedade entre uma minoria preservada desta “orgia digital”, que possuirá, por meio da cultura e da linguagem, as ferramentas necessárias para pensar e refletir sobre o mundo, e uma maioria com ferramentas cognitivas e culturais limitadas, incapaz de compreender o mundo, que aprenderá apenas as habilidades básicas para ocupar empregos técnicos de médio ou baixo nível. Enfim, estamos assinalando para um mundo em que, através do acesso constante e debilitante ao entretenimento, essa maioria aprenderá a amar a servidão.
Agora, leitor/leitora, imagine esse cenário catastrófico aplicado ao nosso querido Brasil, onde as condições socioeconômicas são determinadas ainda no berço — atenção, arautos da meritocracia, não há meritocracia onde vigora o abismo social. Por conta de interesses escusos, a nossa sociedade saiu das trevas do mais profundo analfabetismo diretamente para a cultura audiovisual, sem passar pelo letramento. Em 1970, ou seja, há exatos 50 anos, 34% da população com mais de 15 anos não sabia ler, mas quase um terço dos brasileiros já tinha acesso à televisão, um projeto da ditadura militar visando a unificação do país por meio da “máquina de fazer doido”, apelido carinhoso dado à época, de maneira visionária, pelo cronista Stanislaw Ponte-Preta.
Uma pesquisa do IBGE mostra que em 2016, 97,2% dos lares brasileiros possuíam aparelho de televisão, 45% contavam com computador, 92,6% da população tinha celular — em contrapartida, apenas 4,5% das escolas públicas brasileiras contavam com infraestrutura prevista no Plano Nacional de Educação, que se traduz em acesso a energia elétrica; abastecimento de água tratada; esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sólidos; espaços para a prática esportiva e para acesso a bens culturais e artísticos; e equipamentos e laboratórios de ciências. Faltam bibliotecas em 55% das escolas brasileiras e os salários dos professores do ensino público estão entre os piores do mundo, segundo levantamento do Inep.
Ou seja, caríssimos leitores/as: o Brasil é campo fértil para a disseminação dos idiotas digitais e não é à toa que eles estão aí, cada vez ocupando mais espaço na sociedade.
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