O tal de Jipe se dizia portador dentro dele de um carro de corrida, que não tinha preço. Saía disparado pelo calçamento, buzinando. Na avenida do comércio, passava veloz segurando numa mão uma placa com o número do carro e na outra um farol sem lâmpada. Chiranha era o que adivinhava qual seria o número sorteado no jogo da loteria. Ainda tinha o doido Paturi, um meio azoado, ele virava uma fera quando era arreliado com aquele apelido que detestava.
E o Ciro Mergulhador?
Quando o gaiato dizia:
– Ciro Mergulhador!
A resposta era uma só:
– Atrás de moça bonita!
Todos eles exerciam seu papel particular na vida da cidade. O tal Jipe fazia o preparo físico para fortalecer o fôlego pela madrugada, indo e vindo disparado muitas vezes na travessia que fazia no piso da Ponte Velha. Até que chegava como um vento veloz ao centro da cidade, buzinando, gritando para que a pessoa saísse da frente, se não quisesse ser atropelada, estava com pressa, ia calibrar os pneus de seu carro para uma viagem que faria naquele dia até a cidade vizinha de Ilhéus. Não queria chegar atrasado no local de saída, as pessoas que iriam ser conduzidas na viagem poderiam desistir com o atraso de seu jipe e irem embora.
Lembro de todos eles, como se estivessem agora ressurgidos do tempo longínquo, que se esfumou na curva dos anos. Exsurgem com suas graças e ingenuidades de gestos para fazer a cidade mais humana, com sons e cores de uma gente que divertia a vida sem querer nada de volta. Doidos mansos de minha terra, anunciados pelo destino em cada número do teatro da vida, como se fossem figuras grotescas, mas que eram queridas por gente grande e pequena, pelo espetáculo que era dado de graça.
Mula-Manca, Maria Camisão, Ciro Mergulhador, o tal Jipe falado, Zeles Carnavalesco, Chiranha, mais Paturi, porque me fizeram um menino alegre, dedico-lhes agora essa crônica como se fosse uma rosa que emerge com o seu perfume suave do lugar onde não morre a ternura.
Cyro de Mattos
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