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Sobre um lendário poeta parnasiano conta-se que uma tarde, ao chegar à sua casa e fechar o guarda-chuva, notou que na ponta dele se debatia, como uma borboleta, um pedaço de arco-íris.
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Os melhores poetas talvez sejam os que exprimem a beleza com reverência e humildade, sem a apregoarem como criação do próprio talento e genialidade.
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Se é um ficcionista quem a escreve, uma autobiografia pode não ser muito confiável, mas será certamente bem mais interessante.
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Exigir que a literatura (e qualquer outra arte) se preocupe com a verdade seria como querer que o sol, depois de brilhar o dia inteiro sobre um palácio, atendesse a uma ordem e estendesse o expediente na coroação de uma rainha.
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A poesia romântica nem tanto, mas alguns poetas da escola procuram manter ainda a imagem, com suas melenas, suas amadas imaginárias e a tosse prenunciadora de róseas hemoptises.
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Com os conselhos de um livro de autoajuda construiu em alguns minutos sua glória. Primeiro, presumiu-se poeta. Depois, foi acrescentando adjetivos: bom, ótimo, excelente. Para não parecer leviano e ter algo para fazer no dia seguinte, não se chamou de único e genial, embora já se sentisse merecedor de ambos os títulos.
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No brasão do poeta concretista: “Sempre tive os pés no chão.”
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Eu sabia medir versos, metrificar, casar sons, rimar, tinha objetos de escandir, polir, burilar, uma oficina completa, na época em que me presumi poeta.
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Morreu no restaurante, sentado e tão assintomaticamente que o garçom só veio com a conta meia hora depois, para não lhe perturbar a soneca.
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Não há o que não me doa, tudo que tento é fracasso. Chamei Fernando Pessoa e quem me veio? O Epitácio.
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Na idade vil dos oitenta, lembrando a vida de outrora, você se lamenta e chora: como era bom ter setenta.
Raul Drewnick
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