quinta-feira, janeiro 7

QI e leitura

Num artigo de Christophe Clavé, professor universitário de Estratégia com vários MBA nas melhores universidades, li consternada a notícia de que o QI médio, que desde o final da Segunda Guerra Mundial até aos anos 1990 aumentou sempre, está em queda há vinte anos, sobretudo nos países ditos desenvolvidos. Uma das razões apontadas para esse declínio é o empobrecimento da linguagem. Tal como um bebé não tem memória por não ter uma linguagem que lhe permita fixar a recordação (é por isso que só temos lembranças de coisas que nos aconteceram depois de termos aprendido a falar, lá para os três ou quatro anos), sem linguagem é impossível formar ideias, pensamentos, argumentos. E não se trata apenas de pobreza lexical, pois sem estrutura (por isso a pontuação é importante) não é possível elaborar ideias complexas. O professor nota que desapareceram por exemplo alguns tempos verbais (o conjuntivo e o condicional, por exemplo) e que o facto de a linguagem que se emprega estar reduzida ao tempo presente faz com que, por exemplo, seja difícil fazer projecções (estou sempre a dizer que os jovens autores escrevem tudo no presente, finalmente há alguém que me entende). O uso excessivo de abreviaturas, a abolição dos géneros (mesmo com «boas» intenções) e a sistemática ausência de pontuação nas SMS e nos e-mails são «golpes mortais» na precisão e na variedade da expressão linguística. Quanto menos léxico e menos verbos conjugados, mais difícil se torna construir um argumento, defender uma posição, expressar uma opinião. Menos linguagem, menos reflexão; menos pensamento crítico, menos controlo. Pior ainda: quando a emoção não se expressa por palavras, pode exprimir-se, como sabemos, por actos... violentos. Cito do artigo: "A história está cheia de exemplos, e muitos livros (1984, de Georges Orwell, ou Fahrenheit 451, de Ray Bradbury) contam como todos os regimes totalitários sempre minaram o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras." Posto isto, por favor, leiam cada vez mais e ensinem os vossos mais pequenos a gostar de ler, mesmo que seja complicado. Como diz o professor Clavé, é "nesse esforço que existe liberdade". Sejamos livres.

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