segunda-feira, dezembro 13

Não mais que algumas

Nas melhores novelas policiais, costuma haver uma loira que aparece logo no primeiro capítulo. Tudo que ocorre depois não tem nenhuma importância.


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Eu já devia ter compreendido. Se fosse meu destino ser poeta, há muito eu já teria sido.

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Logo no início o poeta lírico percebeu que para se transformar num poeta social não bastaria substituir as reticências pelos pontos de exclamação.

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Se há um defeito que se pode apontar nos gatos, não é a sua beleza. É a maneira displicente com que a exibem para nós, como se não fôssemos dignos de apreciá-la.

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Era um passarinho sonso, desses que aparecem na página 4 e na 5 já estão na barriga de um gato.

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Sou um desses poetas reconhecidos apenas em cartório, na presença de pelo menos duas testemunhas.

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Nos últimos tempos, ninguém conhece melhor a execração pública do que os fazedores de sonetos.

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Um dia depois de haver decidido tornar-se um poeta social, tinha já feito duas aquisições indispensáveis à sua nova condição: uma kombi com vocação suburbana e um megafone.

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Seja qual for a ocasião, nunca puxe do bolso um soneto, a não ser que você tenha pelo menos três boas desculpas e um habeas-corpus preventivo.

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De uns meses para cá, vem escrevendo cada vez menos. Ainda não recebeu nenhuma reclamação.
Raul Drewnick

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