quarta-feira, dezembro 13

A menina ensolarada

Era ainda uma menina quando descobriu que por ela é que brilhava o sol todos os dias. Desde aí, para não privá-lo de sua razão de ser e premiá-lo por sua assiduidade, jamais saiu à rua uma manhã sequer sem piscar para ele o olhar esplendidamente verde e cúmplice.

***

Não tenho brilho nem pompa, tudo que é meu é banal. Nada há meu que não se rompa, nada perene, imortal.

***

O homem não tinha dado dez passos na primeira calçada da manhã, e o sol frio, e os olhares gelados, e os passarinhos emudecidos já lhe tinham comunicado que qualquer projeto de alegria estava excluído da minuciosa pauta do domingo.
 
***

Digam o que disserem, é a tristeza que mantém viva a poesia.

***

Render-se alguém ao amor não é batalha perdida. Não há prisão mais querida nem tão amável senhor.

***

Não cumpri jornadas, não segui trajetórias. Fui sempre antônimo de tudo, jamais fui mais do que nada. Aspirei a glórias, não atingi a glória. Minhas histórias todas não formam uma história.

***

Brasão de um produtor de leite: alea lacta est.

***

Descobrimos que no final os caminhos tortos e os caminhos retos nos levam todos ao rumo certo, e estamos perto, cada vez mais perto.

***

Dizem que fui escritor. Acredito. Devo ter feito ontem algo muito ruim para estar sendo castigado hoje assim.

***

O amor é capaz de tudo. Tudo pode, tudo faz. Transforma o loquaz em mudo, transforma o mudo em loquaz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário