Um homem é o que para os outros foi ou é, e, também, aquilo que o não deixaram ser. A minha vida permitiu-me acumular experiências, e tive a sorte de trabalhar, em dois diários, com grandes, extraordinários, profissionais. Os jornais, esses, acabaram e de forma triste e desamparada. Aos jornalistas, a esses, recordo-os sempre com estima e afeição. Sou um produto deles, e eles sempre olharam por mim com o cuidado suscitado pela amizade. Não exagero: o pulsar do meu coração não falha, quando leio ou assisto, pelas televisões, nos jornais, a reportagens que marcam o sobressalto daquilo que sinto. Esses sentimentos prolongo-os até hoje, numa memória constante que, amiúde, se confunde com o meu próprio destino.
Às vezes, apetece-me dizer estas coisas. Inspirações momentâneas, surgidas do que observo ou leio. Mas também desejo encorajar todos aqueles que, nos jornais ou nas televisões, têm sentido a frustração dos dias, a estranha paragem do tempo, a dor secreta da velhice. Nunca me queixei, nunca levei para casa a dor profunda e secreta do que me faziam. Fui fazendo. Algumas vezes disfarçando, nas frases, o sofrimento que ocultava com um riso só feliz na aparência. Tenho andado a remoer e a mastigar, com o esquecimento forçado e o sorriso aberto, as dores com as quais fui envelhecendo.
Tenho a cabeça e os sentimentos que nela se ocultam, sem se apagar, numerosos factos e histórias, afinal comuns a quem fez da vida um caudal de palavras e de frases. O culpado sou só eu. Mas só escrevo aquelas que não podem magoar ninguém. Sei que se chama a isto ter carácter. Salvei-me do recurso à canalhice, e tudo concorria para que assim não fosse. A minha vida não serve de exemplo para ninguém, a não ser para mim próprio, e só a escrevo em minúsculos episódios, como este, agora, e devo-o não só a mim, mas, sobretudo, àqueles que de mim gostam. Até já.
Baptista-Bastos
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