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Ora, trocar beijos… Que transação é essa, o que pode haver mais fútil que isso? Beijos não se trocam. Beijos se dão, e neles há de haver mais de alma que de lábios e boca. Beijos devem ser a entrega única, total, a rendição absoluta, sem margem para arrependimentos.
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As recordações do amor, assim como tudo mais, agora lhe vêm envoltas em névoa. Os olhos da memória estão cansados como os do rosto. Hoje se recordou das tardes em que, no cinema, ele e a namorada (nem sempre a mesma) se revezavam no jogo de, entre beijos, irem fazendo o chiclete mudar de boca. Lembra-se de um dia de beijos especialmente excitantes, em que ele (ou ela) acabou engolindo o chiclete, A dúvida o faz sentir-se falso. Também não se lembra mais do nome da garota.
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Não receies. Serão só mais alguns beijos. Se lhe parecerem descorteses, isso será por conta de uma antiga luxúria, hoje extinta. Se também os dedos lhe parecerem um tanto atrevidos, há de ser porque os lábios ainda guardam memória de melhores tempos. De resto, não temas coisa alguma. Não tenho mais como magoar-te nem como reverenciar teu corpo como ele merece. Alguns beijos mais, só alguns. Se quiseres, podes abrir três ou quatro botões da blusa.
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