O sebo é onde o livro encontra o seu verdadeiro apreciador.
Intacto com as páginas precisando ser abertas com espátula, ou todo estropiado,
espera sua vez de se mostrar. Quando já usado, o leitor quase que transformou o
livro em um objeto artesanal. No sebo, o livro está bem próximo de um
manuscrito que registra a passagem do leitor no rastro do autor. Há os
anotados, assinalados a lápis ou caneta – se depender do tempo, com antigas
canetas de pena; com recortes de jornais sobre o autor e papéis de todo tipo marcando
a página preferida. Uns mais antigos, marcados com uma flor, carregam amor
entre papéis esquecidos.
Nem faltam cartas e documentos, que as páginas se
tornaram guardiães de segredo de cofre e coração (E aquela carta de amor
endereçada a um escritor que a leitora deixou de enviar, mas guardou
secretamente no livro autografado?). Tudo acaba esquecido entre páginas como marcador
ou apenas foi esquecido depois de escondido. Silencioso, em suas páginas, o
livro pode guardar qualquer segredo.
O livro tem um destaque especial quando foi manuseado por um
ou mais leitores. É possível seguir o rastro de como foi tratado desde seu
primeiro comprador. Agredido por crianças ou insetos, está lá o livro marcado
pelos rabiscos e algum furo de cupim, que talvez tenha deixado até manchas.
Outros carregam marcas do dono como ex-libris. Nos antigos, sequer faltam os
selos dos encadernadores. Tempos em que os volumes eram encadernados e ficavam
em fileiras nas estantes, com lombadas.
Os segredos dos leitores são revelados apenas para o
livreiro. Fiel depositário de tanta vida, fecha o livro e deixa que vá para a
prateleira. O livro levará para bem longe o que guardou tanto tempo. Na
distância, tudo vai se perder e o segredo estará garantido.
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