Edição considerada subversiva foi queimada em praça pública em 1937
Entre o azul do céu e o verde do mar, o navio ruma o
verde-amarelo pátrio. Três horas da tarde. Ar parado. Calor. No tombadilho,
entre franceses, ingleses, argen tinos e ianques está todo o Brasil (evoé,
Carnaval!). Fazendeiros ricos de volta da Europa, onde correram igrejas e
museus. Diplomatas a dar ideia de manequins de uma casa de modas masculinas...
Po líticos imbecis e gordos, suas magras e imbecis filhas e seus imbecis filhos
doutores. Lá no fundo, namorando o mistério das águas, uma francesa linda como
as coisas caras, aventureira viajada, da qual se dizia conhecer todos os países
e todas as raças, o que equivale a dizer que conhecia toda espécie de homem,
tolera, com um sorriso condescendente, o galanteio juliodantesco de uma dúzia
de filhos-família brasileiros e argentinos: — A senhorita é linda... — Minha
vida pela sua vida... — Faça um sinal e me atirarei n’água! — Eu queria que o
navio naufragasse para poder provar quanto a amo... Tudo isso era dito em mau
francês, num mau francês de causar inveja aos rapazes que leem Dekobra e têm
por Tiradentes uma grande paixão patriótica. Toda essa gente sua muito debaixo
da elegância das suas roupas quentes, feitas em Londres e Paris a preços
elevados. Toda a gente, menos a francesa, que traja um vestido simples de musselina
branca. É, em verdade, bela. Olhos verdes como o mar e pele alva. Não admira
que aqueles tropicais brasileiros e argentinos gastem com ela a sua retórica,
“tão precisa à pátria”.
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