A sogra
Quem não gostou foi a futura sogra. Chamou o filho. Instigou-o: “Essa menina está fazendo você de gato e sapato. Isso não é papel! Onde é que nós estamos?” Ele, que adorava a noiva, que a colocava acima de tudo e de todos, cortou o debate: “Vamos mudar de assunto, sim, mamãe?” A velha, porém, era tremenda. Largou o filho com as seguintes palavras: “Está certo, não se fala mais nisso. Mas quero te dizer uma coisa: aqui há dente de coelho.” E o fato é que, sem dizer nada a ninguém, ela andava desconfiadíssima. De quem ou de que, nem ela própria saberia dizê-lo. Nesta mesma tarde, porém, recorreu a vários conhecidos, atrás de uma informação, até que descobriu um detetive particular. Chamou o homem; perguntou:
– O senhor é discreto?
– Um túmulo!
– Ótimo. Eu preciso mesmo de um túmulo. Trata-se do seguinte...
Incumbiu o sujeito de acompanhar os passos de Margô; advertiu: “Pode ser palpite meu, mas não custa apurar.” O fulano concordou, grave: “Evidente! Evidente!” Deixou-o com a super-recomendação: “Ninguém pode saber disso!” Quarenta e oito horas depois, o detetive reaparecia, de olho esgazeado. Contou, longamente, o que apurara. De vez em quando, interrompia o relatório para exprimir seu estupor: “De arder! De arder!” Assombrada, a velha balbuciou: “Eu só acredito vendo com os meus próprios olhos!” E o detetive: “Amanhã, eu mostro o homem à senhora!”
Nelson Rodrigues
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