História pessoal da leitura
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Pete Stec |
Aos dez anos eu lia vidas de santos e queria ser santinho. Aos doze anos confessei-me com um padre ignorante. Daí em diante fuiperdendo aos poucos a religião. Na adolescência dois amigos espíritas me davam para ler jornaes e livros dessa doutrina. Mas não me convenci. Daí em diante li autores heréticos que muito me seduziam. Li então o meu mestre de ateísmo, Félix Le Dantec, cujas obras apareciam então traduzidas ao português. Peguei uma reta nessa corrente de idéias. Li os materialistas da revolução franceza, Diderot à frente e outros. Era um leitor desabusado, ávido de críticas destruidoras. Li todo o Maupassant, todo Anatole France, todo Rémy de Gourmont, os escritores da Nouvelle Revue Française, o diabo! Fui empolgado pelo anticristão Nietzsche. Os escritores espanhóis da geração de 98 me conquistaram. Com Azorín, estilista sem par, apurei a minha arte de escrever. Fui leitor do meu casmurro romancista Pio Baroja. A guerra de Franco mergulhou os espanhóis numa espécie de idade média dominada pelo clero. Fiquei só com os franceses, até Albert Camus e Jean-Paul Sartre, meus últimos oráculos. Com Sartre, terminou a minha carreira, tranquila, sem sobressaltos de indivíduo sem as ilusões dos comuns homens religiosos.
Eduardo Frieiro
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