Com raras exceções regionalizadas, o Estado Brasileiro está surdo ao silencio da leitura, mas atento a balbúrdia do espetáculo. A escrita e o livro, ferramentas tecnológico-socioculturais responsáveis pelo salto dohomo sapiens sapiens para o “Ser Humano”, são relegados ao ostracismo, exílio e pouca simpatia. É controverso, mas aquilo que fez de nós civilização, recebe no Brasil, por deficiência dos gestores da nação, tratamento pífio.
O Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) está em cortejo, não se sabe se para a vala ou para forca. A administração pública da ferramenta essencial para a alfabetização, letramento, desenvolvimento pedagógico, técnico, profissional, acadêmico e lúdico ficou órfão de pais. Atendendo a prioridade administrativa dos ministérios, ficou vinculada ao Ministério da Cultura que tem certas prioridades. O Ministério da Educação tem outras.
Parte da indústria e do varejo tem celeridade nas políticas de isenção. Mas a constitucionalidade que protege e compreende a liberdade de expressão como bem fundamental à democracia cidadã, ainda tem problemas legislativos na cobrança de impostos imunes dentro do Simples Nacional. Isenta-se de IPTU os teatros, mas aqueles que suprem a sociedade das essências das expressões do homem, não. O livro é tido como produto e o leitor como consumidor.
O fechamento anunciado da Livraria Leonardo da Vinci, depois de 63 anos de serviços prestados ao seu País, é um velório de céu paulistano: de poucas estrelas. Da morte anunciada de um tipo de futuro, ou a ausência dele. Afinal, o que o Brasil quer ser quando crescer?
Sem dúvidas, diversos outros fatores somam-se a este resultado e podem nos levar a uma análise legítima, mas tão abrangente, que nos fará esquecer uma simples verdade: este mercado depende fundamentalmente de uma Política de Estado. Seja pelo letramento básico da população, à uma construção do hábito desenvolvimentista da leitura e da contínua instrumentalização cultural e intelectual, até a valorização da educação, de suas ferramentas e de seus profissionais.
Livro não é pirulito. Ele traz em sua essência a liberdade do homem: livro e livre. Livre e registro. Contínuo, curioso, sábio e aprendiz. A ausência de regulamentação de varejo do bem essencial às humanidades, é o retrato da ausência de certa humanidade. É preciso que haja, sem demora, um resgate do valor do livro e seu significado na sociedade brasileira. Por que o livro é o aparato tecnológico mais eficiente diante dos processos do pensamento, da escrita, da leitura, e da conversão da fala e audição em registro contínuo de seres “aprendentes”.
É preciso compreender que sem livro, sem o aparato da escrita e da leitura, não estamos a margem da sociedade. Estamos a margem da civilização.
Afonso Martin, presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL)
Suprima-se o livreiro e estará morto o livro - e com a morte do livro retrocederemos a idade da pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre.
Monteiro Lobato
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