A mãe morre quando ela é menina. Aos 8 anos, vai para um internato. O pai casa-se novamente, com uma italiana irascível. Aos 14 anos, apaixona-se por um homem seis anos mais velho, “de sensibilidade aguçada”. Casa-se aos 15, e muda-se para a casa da família do marido, um trio de mulheres alucinadas, em que se destaca a mãe beata com delírios persecutórios. Sua residência, mais tarde, é frequentada por intelectuais e artistas — de cujas animadas conversas, apesar de inteligente e curiosa, é alijada. Diagnosticado com tuberculose, o marido confessa ter um caso e, entre outras atitudes impiedosas, pede-lhe que procure a amante em seu nome. Jovem viúva com filhos pequenos, foge das sandices da sogra mudando-se para uma pensão, e sai à cata de emprego. É assim, entre episódios de mesquinharia, crueldade e loucura, que transcorre a vida de Berenice, narradora do romance "A imaginária", de Adalgisa Nery. Assim transcorreu a vida da própria Adalgisa, contada neste livro de autoficção que chega às livrarias depois de 35 anos fora de catálogo, desde a morte da autora.
"A imaginária" será lançado hoje, na Travessa de Botafogo, numa espécie de celebração da volta ao mercado da obra de Adalgisa (1905-1980) — depois dele, serão publicados seu outro romance, "Neblina" (em outubro), os volumes de contos "Og" e "22 menos 1" e uma coletânea de poemas, ainda sem nome (os três em 2016). O fato de a escritora, poeta e tradutora ser mais lembrada, hoje, por sua carreira de jornalista (assinou durante 12 anos, no jornal "Última Hora", a coluna diária "Retrato Sem Retoque") e política — teve três mandatos de deputada, de 1960 a 1969, quando foi cassada pelo regime militar.
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