Melhor ainda se tivéssemos ruídos, de rua, de festas, de brigas, tiros, e uma trilha sonora instrumental pontuando as ações. E vozes de atores lendo as falas dos personagens. Mas logo desanimei: estava inventando o radioteatro com um século de atraso...
Não que a narrativa de Agualusa seja insuficiente; ela instiga o bastante para tocar a história para frente, sem gastar palavras para descrever locações como o fabuloso Hotel Polana, em Maputo, capital de Moçambique, por onde passa a equipe que está fazendo um documentário sobre o lendário músico angolano Faustino Manso, suas sete mulheres e dezoito filhos.
Quanta beleza e surpresa nos cenários de Angola, Moçambique e África do Sul, onde se desenvolve a ficção de Agualusa, uma teia de encontros e desencontros de novos portugueses de origem africana em busca de suas raízes, de africanos modernos em busca do futuro, de paixões e acasos se entrelaçando nas ruas perigosas de Luanda, Maputo e Cape Town.
Claro que o livro tem o mesmo valor literário sem as imagens que vi, em detalhes, ampliadas, e sem as músicas do Duo Ouro Negro que ouvi no You Tube, o primeiro grande sucesso internacional da África Negra nos anos 50, em que Agualusa se inspirou para criar Faustino Manso. Mas ler a história ouvindo aquelas músicas e vendo aqueles cenários maravilhosos, além do que o leitor cria em sua cabeça, é uma nova e deliciosa forma de ler na era digital. E talvez gere uma nova forma de escrever.
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