O judeu da Babilônia, como era chamado o milagreiro, viajou a noite inteira na carruagem que o levava de Lublin ao vilarejo de Tarnigrod. O cocheiro, um sujeito baixinho e de ombros largos, permaneceu em silêncio durante toda a jornada. Cabeceava de sono e chicoteava o matungo, que andava devagar, passo a passo. A velha égua aprumava as orelhas e olhava para trás com seus olhos grandes, que exprimiam curiosidade humana e refletiam o brilho da lua cheia. Parecia indagar-se sobre aquele passageiro estranho, que trajava um casaco de veludo com forro de pele e tinha um chapéu também de pele na cabeça. Chegou mesmo a franzir o beiço escuro, forjando uma espécie de sorriso equino. O milagreiro estremeceu e murmurou uma fórmula mágica, levando o cocheiro a se dar conta de como seu passageiro era perigoso.
“Anda, égua preguiçosa!”
A carruagem passou por campos arados, montes de feno e um moinho de vento, o qual, girando lentamente, surgia, desaparecia e ressurgia. Seus braços abertos davam a impressão de apontar-lhes o caminho. Uma coruja piou e uma estrela cadente se desprendeu do céu, deixando um rastro ígneo atrás de si. O milagreiro se enrolou em seu xale de lã. “Ai de mim!”, gemeu. “Já não sou páreo para eles.” Referia-se aos seres infernais, os demônios aos quais dera combate a vida inteira. Agora que estava velho e fraco, começavam a vingar-se dele.
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