A dois quilômetros dos recifes, o James Forrestal com seus holofotes vasculhava as águas escuras. O Sol agora já desaparecera de todo, e a rápida noite tropical vinha correndo do leste. Reinhold imaginava, com um leve sarcasmo, se o porta-aviões esperava encontrar submarinos russos tão perto da costa.
Pensar na Rússia fez com que se lembrasse, como sempre, de Konrad e daquela manhã na desastrosa primavera de 1945. Mais de trinta anos se passaram, mas a memória daqueles últimos dias, quando o Reich se desintegrava sob as ondas do Leste e do Oeste, nunca se desvanecera. Ainda conseguia ver os olhos azuis cansados de Konrad, e a barba dourada por fazer em seu queixo, quando apertaram as mãos e se despediram na cidadezinha prussiana arruinada, enquanto uma torrente ininterrupta de refugiados passava por eles. Fora uma despedida que simbolizava tudo o que acontecera desde então com o mundo: a divisão entre o Leste e o Oeste, pois Konrad escolhera a estrada para Moscou. Reinhold o considerara um tolo, mas agora não tinha tanta certeza.
Por trinta anos, imaginara que Konrad estivesse morto. Apenas na semana passada o coronel Sandmeyer, da Inteligência Técnica, havia lhe dado a notícia. Reinhold não gostava de Sandmeyer, e tinha certeza de que o sentimento era mútuo. Contudo, nenhum deles deixava que isso interferisse no trabalho.
- Sr. Hoffmann - o coronel começara, em seu melhor tom oficial -, acabo de receber algumas informações alarmantes de Washington. É claro que são extremamente secretas, mas resolvemos revelá-las para o pessoal de engenharia, para que compreendam a necessidade da pressa. - Fez uma pausa dramática, gesto que não surtiu efeito em Reinhold. De algum modo, já sabia o que viria a seguir.
- Os russos estão quase empatados conosco. Conseguiram um tipo de propulsão atômica. Pode até ser mais eficiente do que a nossa. E estão construindo uma nave às margens do Lago Baikal. Não sabemos até onde chegaram, mas a Inteligência acredita que ela possa ser lançada este ano. O senhor sabe o que isso significa.
"Sim", pensou Reinhold, "eu sei. A corrida começou... e podemos perder.
- Sabe quem é o chefe da equipe deles? - havia perguntado, sem esperar de fato uma resposta. Para sua surpresa, o coronel Sand- meyer empurrara sobre a mesa uma folha datilografada e, no alto dela, estava o nome: Konrad Schneider.
- O senhor conheceu muitos desses homens em Peenemünde, não foi? - perguntou o coronel. - Isso pode nos dar uma ideia dos métodos que usam. Gostaria que o senhor me preparasse notas sobre o maior número deles que puder: as especialidades, as ideias brilhantes que tiveram e assim por diante. Sei que estou pedindo muito, depois de todo esse tempo... Mas veja o que pode fazer.
- Konrad Schneider é o único que importa - Reinhold respondera. - Ele era brilhante. Os outros, apenas engenheiros competentes. Só Deus sabe o que ele pode ter feito em trinta anos. Não se esqueça de que ele deve ter visto cada um dos nossos resultados, e nós não vimos nenhum dos dele. Com isso, tem uma tremenda vantagem sobre nós.
Não pretendera, com aquilo, criticar a Inteligência, porém, por um momento, pareceu que Sandmeyer ficaria ofendido. Mas então o coronel deu de ombros.
- Tem suas vantagens e desvantagens, como o senhor mesmo me disse. O nosso livre intercâmbio de informações significa um progresso mais rápido, mesmo se deixamos escapar alguns segredos. Os departamentos de pesquisa russos não devem saber o que seu próprio pessoal faz durante metade do tempo. Vamos mostrar pra eles que a democracia pode chegar primeiro à Lua.
"Democracia... Besteira!!, pensou Reinhold, mas não era louco de dizer. Um Konrad Schneider valia um milhão de eleitores. E o que Konrad já teria feito a esta altura, com todos os recursos da URSS por trás dele? Quem sabe, neste mesmo instante, sua nave já estivesse se afastando da Terra...
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