Bigodes, barriga, bar e uma casa também. Nela entrava sempre molhado da rua, as artérias batendo, com sede e querendo se deitar ‒ exatamente como se estivesse saindo do mar.
Mas não havia mais mar, havia bigodes, barriga e bar. Onde fora parar aquele mar todo? Aqueles momentos de pura paixão física? Onde os ruídos que os chinelos faziam arranhando a areia? Onde a camisa com que enxugar o rosto e guardar debaixo da barraca ao lado dos óculos respingados e do maço de cigarros com a chave e a nota de mil debaixo do celofane? Onde aquela tragada molhada? Pés ao sol, cabeça à sombra. As ondas boas, o mergulho bom, bom esse óleo, boa a toalha.
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Bêbado, muito bêbado, ele dava telefonemas errados em horas impróprias. Ligava de madrugada para mulheres, agora casadas, que atendiam de mau humor e desligavam logo. Ele dizia palavrões baixinhos e passava o copo na testa. Como todo homem de mar, falava mal das piscinas ‒ indecências sem peixes.
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"Mar, depois de tanto tempo eis-me aqui de novo. Eu, o turrão, o zangado. Você, suas coisas todas. Mar, me dá. Mais uma vez só. Por favor".
E, primeiro com os pés, experimentou o mar frio. Molhou os pulsos, com a água fez o sinal da cruz, deixou-se, desajeitado, ir caindo. Entrava no velho quarto sem tatear, conhecia aquela escuridão.
Ivan Lessa
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