María Hesse |
– Às quatro azul em ponto casarei contigo no mais alto beiral.
– Candelária?
– Do lado Norte.
– Tá.
Pois às quatro azul em ponto a pomba pontualíssima pousava no beiral. O pombo não.
A pombinha que era branca arrulhava humilhada e ofendida e contemplava acima do campanário todas as possibilidades da rosa dos ventos. Na paisagem do céu voavam só velozes andorinhas garotas e as andorinhas mais velhas se enfileiravam nas cornijas como gente fina lá dentro nos dias solenes de missa de sétimo dia.
Quatro e dez. Quatro e um quarto. Uma pomba sozinha, à mercê, talvez, de um lendário gavião. Sol e sombra. Um quarto de hora muito custa a passar para uma pombinha que aguarda o pombo no beiral para casar. Brisa. Fêmea humilhada. Ah, arrulhou de repente a pomba, ao distinguir indignada o pombo que chegava caminhando pelo beiral mais alto, do outro lado, lá onde um pouco além gritavam as esganadas gaivotas do mar do mercado. Irônica:
– Perdeste a noção do tempo ou do templo?
– Por Deus, perdão, pomba minha. Tardo mas ardo. Olha a tarde!
– Que tarde?
– Olha a tarde! Que azul! Que abril azul!
– Mas e eu?! Sozinha e branca!
– A tarde tão bonita, pombinha, que era um crime voar, vir voando.
– E eu?! E eu?!
– A tarde tão bonita, meu amor, que eu vim andando.
Paulo Mendes Campos
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