Seikichi Izawa |
Aconteceu em Belo Horizonte, com um padre que trouxe das profundezas de Goiás um indiozinho bem pequenino, jamais saído de sua taba. Dentro dela a vida era sempre igual: a pesca dos homens, a caça e o cuidado geral de todos os membros da tribo com a mandioca. A mandioca era o alimento, a fortuna, o bem-estar social de todo o grupo, significava o grande interesse da pequena coletividade.
O indiozinho viu a formosa Belo Horizonte, portanto, pela mão do bom padre. Conheceu até o Mineirão. Viu seus altos edifícios novos, suas arrojadíssimas construções modernas, os cinemas, os bancos, as praças e tudo viu sem fazer perguntas, sem mostrar maior curiosidade. Ao sacerdote, aquela atitude do menino parecia incompreensível, pois esperava que o curumim tão pequenino, que jamais havia saído de sua taba, tivesse um choque até excessivo diante das maravilhas que ele lhe mostrava pacientemente. Por fim, aquilo foi ficando monótono para o padre.
Ele dizia: --- Nesta casa só, há cento e vinte “malocas”, isto é, cento e vinte apartamentos.
O indiozinho olhava, prestava atenção naquela grande casa onde o homem civilizado agregava suas malocas – umas sobre as outras. Não sorria, não se admirava.
Parecia até mesmo que todo aquele mundo de edificações, toda aquela deslumbrante e feérica realização que é Belo Horizonte, não despertasse no pequeno silvícola senão um bocejo e a espera de algo melhor para ver.
Depois de mais de quarenta minutos pela cidade, vista de dentro de um carro – o padre ia na direção –, foi que o garoto disse a primeira frase de impaciência:
- Meu padim (era assim que chamava o padre amigo), quando é que a gente vai visitar o mandiocal deste povo? Você mostra tudo, mas onde é o mandiocal?
Todo o interesse é ligado à vida de cada um. A grande cidade não valia nada aos olhos do curumim porque não tinha um mandiocal.
Dinah Silveira de Queirós
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