sábado, outubro 23

No jardim

7 de abril, 1928


Do outro lado da cerca, pelos espaços entre as flores curvas, eles estavam tacando. Eles foram para o lugar onde estava a bandeira e eu fui seguindo junto à cerca. Luster estava procurando na grama perto da árvore florida. Eles tiraram a bandeira e aí tacaram outra vez. Então puseram a bandeira de novo e foram até a mesa, e ele tacou e o outro tacou. Então eles andaram, e eu fui seguindo junto à cerca. Luster veio da árvore florida e nós seguimos junto à cerca e eles pararam e nós paramos e eu fiquei olhando através da cerca enquanto Luster procurava na grama.

“Aqui, caddie.” Ele tacou. Eles atravessaram o pasto. Agarrei a cerca e fiquei olhando enquanto eles iam embora.

“Que barulheira.” disse Luster. “Onde que já se viu, trinta e três ano, chorando desse jeito. Depois que eu fui até a cidade só pra comprar aquele bolo pra você. Para com essa choradeira. Por que é que você não me ajuda a procurar aquela moeda pra eu poder ir no circo hoje.”

Eles estavam tacando pequenino, do outro lado do pasto. Fui andando junto à cerca de volta para perto do lugar onde estava a bandeira. Ela balançava entre a grama ensolarada e as árvores.

“Vamos.” disse Luster. “Aí a gente já olhou. Eles não vai voltar agora não. Vamos lá no riacho encontrar a moeda senão os negro é que vão achar ela.”

Era vermelha, balançando no pasto. Então veio um passarinho descendo inclinado e pousou nela. Luster jogou. A bandeira balançava entre a grama ensolarada e as árvores. Agarrei a cerca.

“Para com essa choradeira.” disse Luster. “Se eles não quer voltar eu não posso fazer nada. Se você não parar de chorar, a mamãe não vai fazer festa de aniversário pra você. Se você não parar, sabe o que eu vou fazer. Vou comer o bolo todinho. Comer as vela também. Comer as trinta e três velas. Vamos lá, vamos lá no riacho. Preciso achar minha moeda. Quem sabe a gente não acha uma bola também. Olha lá. Eles estão lá. Lá longe. Olha.” Ele veio até a cerca e apontou com o braço. “Olha só eles. Eles não volta mais aqui não. Vamos.”

Seguimos junto à cerca até chegar à cerca do jardim, onde as nossas sombras estavam. A minha sombra era mais alta que a de Luster na cerca. Chegamos no lugar quebrado e passamos por ele.

“Espera aí.” disse Luster. “Você prendeu naquele prego outra vez. Será que você nunca consegue passar aqui sem prender no prego.”

Caddy me soltou e passamos para o outro lado. O tio Maury disse para a gente não deixar ninguém ver a gente, então é melhor a gente se abaixar, disse Caddy. Abaixa, Benjy. Assim, ó. Nós nos abaixamos e atravessamos o jardim, as flores raspando na gente e estremecendo. O chão era duro. Subimos na cerca, onde os porcos estavam grunhindo e fungando. Eles devem estar tristes porque mataram um deles hoje, disse Caddy. O chão era duro, remexido e embolotado.
William Faulkner, "O som e a fúria"

Nenhum comentário:

Postar um comentário