Mao Hamaguchi |
Sonhos não envelhecem, outro fato. A idade não conta para o desejo, seja qual for. Ele nos ajuda a enfrentar a tristeza endêmica dos dias atuais, alivia o peso da caminhada sem destino certo, traz do fundo do poço restos de esperança e ânimo. E o inesperado acontece, por perseverança ou merecimento, quem há de saber?
Quero lançar novo livro ainda este ano e não tinha como. Editores conhecidos não garantiam cumprir o prazo, editoras novas tinham preço condizente com a urgência. Já estava desistindo quando, após uma noite de sono (o travesseiro sempre é bom conselheiro), acordei com a solução e me pus atrás do sonho, que enfim deve se realizar em dezembro.
Às vezes penso que, prestes a completar 73, deveria estar aquietada, realizada, satisfeita com as conquistas até aqui. Mas percebo que a vida nunca estará completa. Sempre haverá o que ansiar e tentar alcançar, para levantar na manhã seguinte e enfrentar com disposição os próximos desafios.
Outro dia, pela primeira vez arrisquei ir a um evento presencial, numa praça ampla com atrações a céu aberto. Escritores foram contemplados com uma tenda onde expor seus livros, e pude perceber o quanto sentia falta de ver gente e ser vista, conversar, alinhavar futuras parcerias. Foi bem difícil resistir aos abraços e apertos de mão, entre tantos amigos queridos, mas cumprimos os protocolos à risca.
Numa pausa, fui conhecer os outros expositores, de pintores a artesãos, de floricultores a fotógrafos, o que preencheu a alma com o talento alheio: a arte é um bálsamo. Quando voltei ao balcão de livros, trazia comigo uma tabuleta entalhada, adquirida em uma das barracas. Nela, meu mantra, cada vez mais cristalizado, que já preguei ao lado da cama para contemplar todos os sentidos da frase: “Nunca deixe de sonhar”.
Madô Martins
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