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Não sei como isso acontece. Às vezes ainda respiro como se estivesse vivo e como se ainda pudesse.
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Sonhou com Estocolmo, nunca saiu daqui. Não conquistou o Nobel, não ganhou o Jabuti.
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Morríamos de tudo: de esperança, de vida, de alegria, de amor, de mulher. Morremos de nada: de desesperança, de medo, de melancolia, de uma ninharia, de um vírus qualquer.
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Tinha já desfeito ruidosa e litigiosamente cinco casamentos. Quando estava se preparando para entrar no sexto, um amigo perguntou: contra quem?
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Os poetas românticos tratavam de morrer cedo, antes de se tornarem velhos execráveis.
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Só fiz aquilo que pude, onde pude. Na Suécia não ganhei o Nobel, nem o Oscar em Hollywood.
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Contrariando os alarmismos, a poesia tem sobrevivido às rimas e à ausência delas, à tirania da métrica e aos desregramentos do versilibrismo, aos poetas glabros e aos vates desgrenhados.
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Ontem menos, hoje mais, somos todos mortais.
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Passarinho de antologia não é pardal. É rouxinol ou cotovia.
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Que bizarro era ver aqueles homens calvos e balofos babando rimas melosas nos ouvidos daquelas mulheres melancólicas e fazendo-lhes a insossa pergunta: quereis, tesouro meu, ser minha musa?
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Ter fé em Deus é o mesmo que acreditar na literatura. Mas nem nela nem Nele se pode confiar muito, se o milagre pedido for o de escrever como escrevia Shakespeare.
Raul Drewnick
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