O que Ivan
Petrovich Pavlov e três executivos têm em comum? No segundo romance de José
Carlos Mello (“O cão de Pavlov”, Octavo) descobrimos a conexão entre a teoria
desenvolvida pelo cientista russo sobre o condicionamento comportamental, o
trabalho corporativo e os hábitos no encravados no cerne da sociedade moderna.
O quanto estamos condicionados a nos comportar de certa forma no trabalho e o
que ocorre quando as amarras são desfeitas?
O texto percorre
a vida de dois recém-aposentados em busca de uma ocupação, que se recusam se entregar
ao ócio, e um terceiro que ainda está na ativa, mas que “é negligente com seus
deveres, na busca permanentemente se aperfeiçoar na arte do nada fazer,
trabalhar o mínimo possível para não ser demitido do seu emprego”.
Mello, que é
leitor contumaz de Fiodor Dostoievski, traz várias referências do escritor para
seu romance, por exemplo, sobre quando ele ficou aprisionado na Sibéria e
decidiu contar como a rotina de uma vida pode ser direcionada de outra forma. O
romance também dialoga com a temática do romancista russo ao abordar a ausência
de virtudes e a degradação dos valores no mundo corporativo.
“Condicionamentos de toda a existência não
podem ser desfeitos de modo brusco sem deixar graves sequelas. Desde o
nascimento, as pessoas são ensinadas a obedecer, a se ater a horários e prazos,
a executar tarefas e a se enquadrar em hierarquias. De repente, mais velhos,
são libertados das obrigações impostas por outros; não tem mais nada a fazer e
ninguém a atender. A liberdade torna-se um castigo, uma punição pelo ócio que
passam a viver. Ocorre o contrário do esperado ao longo da vida útil. O próprio
qualitativo dessa primeira etapa indica que a partir de seu término a vida será
inútil”.
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