Pode parecer um retrato assustador. Mas tenham calma,
fregueses. Em nenhum outro lugar se encontra tanta vida concentrada pronta para
ser levada para casa que uma flanela e uma escova não deixem em perfeito estado
de uso. Entre em um desses velhos sebos. A História já estará a recebê-lo no
umbral centenário. Visite prateleira por prateleira. Tire um livro aqui, outro
ali. Se detenha naquela onde está o assunto que mais lhe interessar. Tenha
certeza de que descobrirá o mundo que ficou ali à espera de você.
Os livros têm essa magia da paciência infinda. Numa estante,
esperam talvez inúmeros anos só por você. Por mistérios desconhecidos,
trafegaram em estradas, viajaram mares, frequentaram ambientes onde talvez você
nunca estará. Um dia há o encontro. É o verdadeiro amor à primeira vista. Então
o autor encontra seu irmão em outro idioma. É você, que ali, talvez mesmo
passado um século, descobre o encanto do encontro. E o livreiro, onde fica
nesse caso de amor? Ele é apenas o alcoviteiro, que passou anos entre aqueles
seculares fungos e ácaros para guardar e vigiar um momento único.
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