As calcinhas
Cazuza, de Viriato Corrêa |
Não me lembro qual a minha idade quando ficou decidido que,
no ano seguinte, eu entraria para a escola.
Mas eu devia ser muito e muito pequeno. Tão pequenino que
não pronunciava direito as palavras e ainda chupava o dedo e vestia roupinhas
de menina.
Mas não imaginem que eu fosse um menino excepcional, desses
meninos prodígios, ajuizados e sisudos, que não riem,. Não brincam e não
saltam,. Dando à gente a impressão de que já nasceram velhos.
Pelo contrário. Eu
era uma criança alegre, traquinas e estouvada, que vivia correndo pelo quintal
e fazendo estripulias pela casa.
Dois motivos é que me deram vontade de estudar.
O primeiro deles – as calças. Desde que me entendi, tive a
preocupação de ser homem e nunca me pude ajeitar nos vestidinhos rendados de
menina. Sempre olhei com inveja os garotos mais taludos do que eu, não porque
eles fossem maiores e gozassem regalias que os garotinhos não gozam, mas porque
usava calças.
Minha mãe prometia frequentemente:
- Quando você entrar para a escola deixará dos vestidinhos.
E, por amor às calças, comecei a mostrar amor aos livros.
O segundo motivo é que o primeiro contato que tive com uma
escola foi através de uma festa. E ficou-me na cabeça a ideia de que a escola
era um lugar de alegria.
Eu conto a vocês.
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