Último volume do Quarteto de Alexandria |
Cléa
As laranjas foram este ano mais abundantes e opulentas. Brilhavam
nos seus ninhos de um verde pálido, como lanternas embaladas pelo vento,
aparecendo aqui e além por entre as árvore batidas pelo sol. Era como se
quisessem celebrar a nossa partida da ilha – porque finalmente a muito esperada
mensagem de Nessim tinha chegado como uma intimação para regressarmos ao mundo
das trevas. Uma mensagem que ia me atirar inexoravelmente de volta para a
cidade que para mim tinha sempre pairado entre a ilusão e a realidade, entre a
substância e as imagens poéticas que o seu próprio nome despertava em mim. Uma
memória, pensei, que tinha sido falsificada pelos desejos e intuições e apenas
semi-realizada no papel. Alexandria, a capital da memória1 Todos os escritos
que eu fui buscar aos vivos e aos mortos, até eu próprio me tornar numa espécie
de post-scriptum de uma carta que nunca foi remetida.
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