Voo noturno
Na tarde dourada, já as colinas, sob o avião, iam cavando o
seu rastro de sombra. Os campos tornavam-se luminosos. De uma luminosidade
perene: naquelas regiões, os campos não cessam de espalhar o seu ouro, assim
como no inverno não findam a sua apoteose de neve.
E o piloto Fabien, conduzindo, do extremo sul para Buenos
Aires, o correio da Patagônia, reconhecia a aproximação da noite pelos mesmos
sinais das águas de um porto: aquela calma, as pregas tênues esboçadas por
nuvens tranquilas. Entreva numa enseada vasta e feliz.
Perante tão profunda calma, Fabien poderia também julgar-se
em longo passeio, como um pastor. Os pastores da Patagônia vão, sem pressa, de
um rebanho a outro: ele ia de uma cidade a outra, era o pastor das pequenas
cidades. De duas em duas horas encontrava uma. Aplacando a sede à beira de um
rio ou ruminando no meio do seu campo.
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