Mar morto
A noite se antecipou. Os homens ainda não esperavam quando
ela desabou sobre a cidade em nuvens carregadas. Ainda não estavam acesas as
luzes do cais, no Farol das Estrelas não brilhavam ainda as lâmpadas pobres que
iluminavam os copos de cachaça, muitos saveiros ainda cortavam as águas do mar
quando o vento trouxe a noite de nuvens pretas.
Os homens se olharam e como que se interrogava. Fitavam o
azul do oceano a perguntar de onde vinha aquela noite adiantada no tempo. Não
era a hora ainda. No entanto, ela vinha carregada de nuvens, precedida do vento
frio do crepúsculos, embaciando o sol, como num milagre terrível.
A noite veio, nesse dia, sem música que a saudasse. Não
ecoara pela cidade a voz clara dos sinos do fim da tarde. Nenhum negro
aparecera ainda de violão na areia do cais. Nenhuma harmônica saudava a noite
da proa de um saveiro. Não rolara sequer pelas ladeiras o baticum monótono dos
candomblés e macumbas. Por que então a noite já chegara sem esperar a música,
sem esperar o aviso dos sinos, a cadência das violas e harmônicas, o misterioso
bater dos instrumentos religiosos? Por que viera assim antes da hora, fora do
tempo?
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