Não é o megalômano Pierre Ménard de Borges, o exegeta de Borges, mas outro com mesmo nome e mesmíssimo vício. Esse novo Pierre Ménard, com a diferença de um acento no grau de bibliomania, tem 22 anos e acaba de lançar na França “20 boas razões para parar de ler”.
Lá vai o arlequim pelos salões nobres da literatura. Ler nos faz pedantes, preguiçosos, tristes, loucos. O mundo acontecendo lá fora, se escrevendo em tinta fresca, e alguém imóvel, trancado, isolado, enfiado num tomo, vivendo de pensar por empréstimo, com olhos alheios, ideias alheias, um falso mundo através dos óculos.
Lá vai o arlequim. Ele pode. Ninguém vai soltar os cães de papel atrás dele. O tricorne de bobo na cabeça o protege. Veja a loucura como pega bem nessa terra das letras, quantos esquizofrênicos, depressivos, megalômanos. Olha só Gérard de Nerval levando sua lagosta para passear. Barthes folheando um livro como se desfolhasse uma mulher. Proust se gabando de seu espírito superior. Veja o quase inexistente limiar entre pedantes e esnobes. Sábio, sábio mesmo foi Sócrates, que não escreveu nenhuma linha.
Pierre Ménard mexe que mexe na sua caixa de anedotas. Ler nos faz melancólicos, míopes, insones, além do que, ler também mata, só ver onde acabaram Paolo e Francesca depois daquela excitante sessão de leitura a dois, quantos suicidas Goethe produziu com Werther ou quanta leitura especializada esquarteja o próprio autor. Os livros matam, os livros mentem. Boa vacina contra o vício, dica do arlequim, é antes ler o que dizem os escritores sobre seus pares. Salve-se o neófito enquanto é tempo. E antes que o assunto comece a ficar sério, o bobo dá uma cambalhota colorida, e vai saindo à francesa, que já deu sua hora.
Mariana Ianelli
Nenhum comentário:
Postar um comentário