Ele gritou pelo amor em todas as ruas da cidade. Não deixou nenhuma sem seu grito. Ia riscando uma a uma no seu guia. Foi a primeira noite, em anos, em que conseguiu isso. Voltou para casa com com um cansaço de mártir que já não sente a cruz nas costas. Como sempre, não havia recebido uma resposta, mas nessa manhã, quando adormeceu, nos seus lábios, onde o nome do amor estava finalmente escrito com a doçura exata, pássaros gentis e desconhecidos encontraram sua fonte, antes de retomarem o voo.
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Nunca se deve desejar muitos anos de vida a uma pessoa jovem. Para ela, é uma ofensa. As pessoas jovens, entre suas presunções, têm a de se sentirem imortais.
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Os leitores rareiam. Cinco, ou quatro, agora. Logo não precisarei mais de palavras. Poderão ser ouvidas, sem intermediários, as batidas do meu coração.
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Alguém chama de versinhos o que escrevo. É o que são.
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O leitor tem sempre razão, mesmo quando olha para o nosso coração, lambe os beiços e diz: me pesa e me embrulha esse bofe.
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O barco dos meus ideais não busca mais o horizonte. Aspira ao fundo mais profundo.
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Atacado pelo vírus da poesia, começou a regurgitar rosas e passarinhos.
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No escuro os viadutos são mais convidativos, quase acolhedores. Parece mais fácil saltar e, se a noite estiver nublada, nem enxergaremos o lugar em que tudo acabará depois da queda.
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Pedir perdão se alguém acreditou que pudéssemos fazer fosse lá o que fosse. Nunca pudemos. Deveríamos ter desistido antes, enquanto havia sol ainda. É triste a noite, e nossas palavras nos abandonaram. Talvez a única que possamos pronunciar honestamente seja desistir. Desistir. Desistir.
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Às vezes, lembra-se do anão do romance Auto de fé, escrito por Elias Canetti. Casado com uma puta, ele se enfiava embaixo da cama quando tocava a campainha um dos fregueses dela. Torcia para que não fossem volumosos.
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Não li todos os livros, mas desde o primeiro eu soube que a carne é triste e a alma é uma criação do medo e da poesia.
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Dizemos com certo orgulho: a poesia foi a grande desgraça de nossa vida.
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