sexta-feira, março 20

A arte de comprar livros

Escolhendo livros, Gonzalo Izquierdo
Livrarias não são instituições de caridade, e sim casas de negócios. O livreiro pode ser grande conhecedor de livros, apreciá-los e até ser um bibliófilo, mas seu objetivo é ganhar dinheiro, como qualquer comerciante. Por isso, por mais que queira ajudar você, ele não irá vender os livros por uma pechincha, mas o bom livreiro também não vai "enfiar a faca" e vender por mais do que vale. A arte do bom livreiro antiquário consiste em servir de intermediário entre quem quer vender, mas não sabe para quem, e quem quer comprar, mas não sabe onde encontrar. Encontrar o preço justo faz parte dessa arte, embora ele também esteja sujeito a erros, vendendo muito barato algum e muito caro outro. Esses preços dependem da cotação do mercado no momento, que pode valorizar muito um autor hoje e esquecê-lo amanhã. O livreiro que não seguir essas regras terá sua reputação manchada.

O bibliófilo que não tem muitos recursos financeiros, mas com bom faro, pode montar uma coleção invejável escolhendo um tema não muito procurado hoje. Mas sempre haverá aquele que, ainda que não seja caro, aparece raramente. O bom livreiro, que conhece sua freguesia, pode ser um aliado nesse momento. Se ele souber o que você anda procurando, ele terá prazer em oferecer-lhe em primeiro lugar. Não deixe de comprá-lo, porque nunca se sabe quando aparecerá outro. Por outro lado, há livros, mesmo raros e caríssimos, que sempre giram de mão em mão e portanto aparecem sempre. Esses podem ficar para depois.

Prefira os bons exemplares, sem muitos defeitos. Custam mais caros, mas valorizam-se mais rapidamente. Só se deve comprar um exemplar imperfeito se for tão incomum que não se tenha esperança de encontrar logo outro melhor. Também prefira a encadernação original ou contemporânea, ainda que seja simples. Um livro na sua primeira encadernação tem muito mais charme e autenticidade, além de revelar detalhes e curiosidades típicos da época. O bom livreiro mencionará detalhes como esses ao conversar com seus clientes, ainda que não apareçam no catálogo. Não se envergonhe de perguntar.

(Rubens Borba de Moraes, "O bibliófilo aprendiz")

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