Kazuo diz que escreveu o novo livro influenciado por Homero, filmes de samurai e westerns |
Depois de passar por vários gêneros em seus sete romances, Kazuo Ishiguro entra agora numa seara popular, especialmente entre os mais jovens. Talvez por isso o autor, nascido no Japão há 60 anos e radicado na Inglaterra desde os 5, tenha demorado uma década para completar a fantasia medieval “O gigante enterrado”, que a Companhia das Letras lança este mês no Brasil, depois de sua publicação na Europa e Estados Unidos.
De sua casa em Londres, Ishiguro conta que carrega um caderno de anotações, onde escreve ideias que porventura possam lhe ocorrer. Foi em um desses que ele anotou há muito tempo a premissa de seu novo romance: alguém ou alguma coisa causa perda de memória a uma sociedade ou à população de um país, e as pessoas têm de decidir se querem destruir aquilo ou aquela pessoa que lhes causa esse mal ou se querem permanecer sem as lembranças que perderam.
— Eles percebem que se as memórias voltarem coisas terríveis podem acontecer — disse ele, em entrevista exclusiva ao GLOBO. — Essa é a história. Pensei nisso em diversas formas, até como ficção científica futurista, numa perda memória causada pelos telefones celulares.
O autor de “Os resíduos do dia”, que lhe valeu o Man Booker Prize de 1989 e foi adaptado para o cinema com o nome de “Vestígios do dia” (1993), e de “Não me abandone jamais”, finalista em 2005 do mesmo prêmio, diz que o gênero não importa quando prepara um novo romance:
— Como escritor, eu sinto muita liberdade, lanço mão do que estiver ao meu alcance.
Ishiguro se compara a um cineasta em busca de locações adequadas para contar a história que quer. Antes de optar por uma Inglaterra mítica, situada por volta do século XV e habitada por fadas, ogros, gigantes e dragões, pensou em várias outras opções.
— Essa história pode ser contada em uma realidade alternativa, como em Ruanda. Outro país em que pensei foi a França, na época da ocupação nazista. O Japão também tem um período complicado durante a Segunda Guerra Mundial. Até a Bósnia, no período da Guerra dos Bálcãs, me passou pela cabeça — explicou ele.
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