terça-feira, março 12

A poesia como cura

Foi o grande poeta John Milton, o autor de Paraíso Perdido (cuja tradução portuguesa é do poeta Daniel Jonas), quem disse que a palavra tem a capacidade de curar uma mente perturbada e é um bálsamo para as feridas. Pois bem: uma sua leitora do século XXI, Deborah Alma, poetisa também, decidiu abrir a primeira farmácia de poesia, como nos conta o sempre gratificante The Guardian. Aí, a poeta de urgência vai receitar, em vez de analgésicos, comprimidos para dormir e antidepressivos, poemas de Blake, Eliot, Shakespeare, Elizabeth Bishop, Robert Browning e muitos mais, à semelhança do que tem andado a fazer na última década numa ambulância que é também uma biblioteca itinerante de poesia, mas agora num espaço fixo de um antigo convento. Diz que está a ficar velha para andar por aí a conduzir e que se apaixonou pelo lugar, com estantes, prateleiras e armários antigos que fazem aquela farmácia de poesia parecer mesmo uma antiga farmácia. Em dois anos conseguiu pagar a hipoteca e agora está mesmo apostada em ajudar quem precisa por meio da poesia, que é o género literário que, segundo Deborah, mais fala à alma das pessoas, mais dialoga com os leitores e os ajuda, por exemplo, a perceber que não são os únicos a sofrer de determinado desgosto, ou perda, ou depressão. No espaço aberto ao público vai haver também uma secção infantil, um gabinete de consultas, um café e um auditório para leituras, performances, oficinas e até refúgios para quem quiser escrever. Por cá, ouço dizer que mais de 40% dos portugueses sofrem de uma ou mais doenças crónicas. E se se pusessem a ler poesia, hã?

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