quinta-feira, março 7

Cenas de Londres

Hyde Park, Londres (1956)
As margens do rio estão crivadas de encardidos armazéns de aparência decrépita, amontoados numa terra que se tornou pantanosa, feita de lama escorregadia. O mesmo ar de decrepitude e decadência esmaga todos. Se uma janela é quebrada, assim continua. Um incêndio que recentemente tisnou um deles fazendo-o prorromper em bolhas não parece deixá-lo mais miserável e infeliz que seus vizinhos. Por trás dos mastros e chaminés, jaz uma sinistra cidade anã de casas operárias. Há guindastes e armazéns em primeiro plano, andaimes e gasômetros enfileiram-se e margeiam uma arquitetura-esqueleto.

Após acres e acres dessa desolação, há subitamente a visão desconcertante ao se passar flutuando e ver uma casa de pedra em meio a um campo verdadeiro, com um grupo compacto de árvores verdadeiras. É possível que haja terra, que tenha havido outrora campo e colheita sob tal desolação e desordem?

Virginia Woolf, "Cenas Londrinas"

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