Mikyung Lee |
Vê que de novo é época de goiabas e romãs? Goiabas gordas e romãs já meio devoradas e ainda presas nos galhos. Fizemos tantas coisas até aqui, tantas viagens à lua, festas do alfabeto, danças com palmas, tambor e pau-de-chuva. Você já sabe que uma boa rega atiça o cheiro do manjericão, sabe que amarelo com azul dá verde e que o mar pode ter muitas cores. Você já sabe qual é a letra do seu nome, uma letra às vezes branca, às vezes azul, às vezes roxa. Mas agora vem crescendo uma vontade de amigo como uma nova fome que a nossa casa não supre. Uma fome de grupo, fome de brincar com meninos e meninas, como na farinhada daquela cantiga de roda que chama todo mundo que gosta de farinha para peneirar junto. Sábio provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia para educar uma criança. Pois é essa vontade que desponta no nosso terceiro outono, como fosse uma daquelas goiabas do bairro, um daqueles brilhos de polpa dizendo com seu rubor: é hora. O mundo vai mal? Tem muita torre de vigia, muita sirene de polícia e jogos de tiro ao alvo, coisas que serão estranhamente brutais para você, eu sei. Coisas que seus olhos grandes, por mais que vejam, não poderão entender. Queria lhe pedir desculpas por isso, queria que fosse outra a nossa aldeia, mais de berimbau e capoeira, mais de samba de coco e poema, que fosse mais calorosa e ao mesmo tempo leve, e dançassem vermelhos, brancos, azuis e verdes como numa das nossas aquarelas. Quisera. Mas o outono está aí e vai cumprindo seu curso, com frutos dando lindamente mesmo dentro de retângulos farpados. É hora. Vá com Malala, minha criança, e você encontrará amigos. Com sua caneta, seus pincéis de guache e aquarela, seus olhos grandes. Vá com Malala, meu amor, e a sua alegria.
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