A fase mais aguda da doença chegou com a inauguração, há dez anos, num subterrâneo na fronteira da Suíça com a França, do tal acelerador gigante que jogaria prótons contra prótons em condições inéditas para tentar reproduzir a origem do mundo, liberar uma partícula subatômica que até então só existia em teoria e chegar mais perto de descobrir como funciona o universo. Quer dizer, os descendentes de Adão e Eva pretendiam levar a rebeldia do casal ao máximo e espiar por baixo do camisolão de Deus. Mas, dez anos e alguns bilhões de dólares depois, fora a importante descoberta da subpartícula presumida chamada Bóson de Higgs, o acelerador não tem muito a festejar no seu décimo aniversário. Não vieram o prometido redimensionamento do espaço, a explicação dos buracos negros, revelações sobre a origem de tudo. Etc.
Quanto mais se sabe sobre o funcionamento do universo, mais aumentam a perplexidade e a angústia das quais Santo Agostinho quis nos poupar. Pois não se pode compreender tudo — pelo menos não com este cérebro que mal compreende a si mesmo.
Mas os efeitos da fruta proibida ainda são fortes. E a doença da curiosidade não tem cura.
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