Só brigou uma vez no internato. Foi com um menino que jogava de ponta-esquerda no time de camisa branca. Jogando como lateral direito no time de camisa azul, ele dava uma marcação implacável àquele menino gago, troncudo, baixo, braços musculosos. Em compensação era menor do que ele, que sempre se antecipava para tomar a bola dele, um atacante arrojado, precisando ser marcado de perto.
Era um duelo à parte entre os dois quando o time de camisa azul enfrentava o de camisa branca.
Na última partida, o marcador e o atacante chocaram-se na lateral do campo, temeu-se que os dois contendores tivessem se machucado gravemente. Houve bate-boca, dedo em riste no rosto, da próxima vez eu lhe quebro a canela, jogadores dos dois times apartaram os dois para evitar a briga. Terminado o jogo, com o sangue ainda quente, atracaram-se, a briga não continuou por mais tempo porque o Irmão Já-Morreu trilou o apito várias vezes, pedindo a seguir que os dois rivais lhe acompanhassem.
Adiante, no campo vazio, sem grama, improvisado no terreno arenoso, localizado entre a parede alta de um dos pavilhões do pavimento térreo, de um lado, e um muro, no outro com uma tela aramada, também alta, na frente e fundo, o Irmão Já-Morreu ordenou:
– Agora podem brigar à vontade. Ninguém vai apartar.
A briga demorou mais de uma hora. Nos lances com murros desfechados um ao outro, procurou evitar que o rival agarrasse o seu corpo. Se isso acontecesse, seria derrubado, e, no chão, dominado, certamente ia ser massacrado pelo rival, sem ter a mínima chance para vencer a briga.
A certa altura da briga renhida, os brigões mostravam cansaço, um se agarrava ao outro para não cair, mas nenhum deles recuava, pensando em correr. Até que de tão cansados com os golpes desfechados, os dois desabaram ao mesmo tempo, cada um caiu para um lado. E ali mesmo ficariam desacordados, sem forças para levantar, não fosse o Irmão Já-Morreu que jogou um balde de água para despertar os brigões, ainda com o sangue quente.
Cyro de Mattos
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